Coluna Os Blocos de Enredo Estão Aí de Júlio César Ferreira
Nesta edição da coluna, vamos falar de um tema sensível neste universo do carnaval carioca. Bloco de enredo é a mesma coisa que escola de samba? De pronto, direi: sim e não.
Muitas escolas de samba que desfilam atualmente surgiram a partir de blocos de enredo. Entretanto, cabe ressaltar que não há um processo automático de transformação de blocos de enredo em escolas de samba (exceto no período entre 2011 e 2014 por força do regulamento vigente à época), situação esta verificada, por exemplo, no Bloco do Barriga e no Bloco Cometas do Bispo, ambos fundadores da FBCERJ em 1965, e que permanecem como tal.
A tese que defendo é que os blocos de enredo do carnaval carioca não podem ser entendidos como simulacros de escolas de samba e nem como desviantes de uma tradição comumente associada aos blocos, sendo uma legítima manifestação do carnaval carioca com construções identitária e sócio-organizacional particulares.
Para ilustrarmos esta questão, partirei de vários exemplos. Iniciemos com os quesitos de julgamento.
Diferentemente das escolas de samba, os blocos de enredo desfilam com estandarte, e não com bandeira. Por isso, o quesito julgado é coreografia de mestre-sala e porta-estandarte. Além disso, há outro quesito somente para o julgamento do estandarte e sua arte, o qual obrigatoriamente deve portar o nome da agremiação e do enredo.
Outra diferença é a não presença do quesito harmonia. Desta forma, nos blocos de enredo, não é necessário uma plêiade de diretores de harmonia gritando para não pararem de cantar. Com isso, o cortejo fica mais livre e leve para o desfilante (e também para a diretoria). Para finalizar, um quesito que já existiu somente nos desfiles dos blocos de enredo: Adereços Manuais. Este quesito foi julgado até a década de 1980.
Depois disso, os mesmos quesitos continuaram no julgamento: bateria, samba-enredo, evolução, fantasia, alegoria (antes era chamado de abre-alas), enredo, estandarte e coreografia de mestre-sala e porta-estandarte. Aqui, sim, encontraremos quesitos similares.
Para dar o toque final, vale ressaltar que as notas são fracionadas em 0,5 (e isso passou a valer somente a partir de 2013, pois antes as notas não eram fracionadas). Nada de 9,7; 9,9. É 10 ou 9,5… Fácil de somar e de comparar. Afinal, o que diferencia um quesito com nota 10 ou 9,9? Muita precisão para as imprecisões e improvisos do carnaval…
Então, fechamos mais uma edição desta coluna e continuaremos neste debate, que não se resume aos quesitos de julgamento. Vários outros elementos devem ser postos e aqui teremos este espaço.
E, só para lembrar, desde 1965, os blocos de enredo estão aí, e organizados, na mais antiga liga em atividade do carnaval carioca, agora rumo ao Carnaval do Povão 2020.
muito bom o texto !
Obrigado Hian!
Tenho uma dúvida: quem é campeã do Bloco I não sobe pro Grupo E e, automaticamente, vira G.R.E.S? Eu pensava que fosse assim. As escolas que ficam licenciadas por alguns anos, no caso são 2, certo, elas podem voltar ao Grupo E? Outra questão: como os Blocos de Enredo podem pleitear sua transformação em G.R.E.S?
Boa noite Renan. A campeão dos blocos não virá escola de samba automaticamente com já foi alguns anos atrás. Os blocos tem que se filiarem a ACAS e apresentarem toda a documentação, pagar as taxas que existem, assim ela desfilará com escola de samba. A suspensão das escolas da Série E são de 2 anos, não sabemos se elas teriam vagas certas ou não. É um bom questionamento e já levamos o mesmo a representantes da ACAS sem termos recebido tal resposta. Obrigado pela sua participação!
Adorei!!
Show! Obrigado amigo!