Sonhou azul-sossego, brincou de carnaval

Publicado por

sosseho1

Escola: G. R. E. S. Acadêmicos do Sossego

Enredo: O CIRCO DO MENINO PASSARINHO

Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora

Presidente: Luiz Carlos dos Santos “Mancha”

Data, Local e Ordem de Desfile: Grupo de Acesso B, 10ª Escola de 09/02/2016, terça-feira, Estrada Intendente Magalhães, Campinho/RJ.

Samba:

Compositores: Felipe Filósofo, Sérgio Joca, Ademir Ribeiro, Fábio Borges, Fábio Silva Personal e Marcello Bertolo

Intérpretes: David do Pandeiro e Ademir Ribeiro

Letra:

Primavera, azul devaneio / Flor do jardim pingando de orvalho

O menino faz o pantanal amanhecer / A brisa abençoou

A revoada dos pássaros vem perfumada de sol / Anuncia o circo da natureza

O coaxar da banda traz os compassos do chão / Ah menino… A teia é corda-bamba

Em seu quintal maior que o mundo / Vira-lata da tristeza faz sorrir

Cores se contorcem… Primazia / Dispara a doce infância em nossos corações

Camaleão se pintou de arco-íris / A tarde cai, salta e mergulha no arrebol

Quando anoitece, vagalumes iluminam o picadeiro / O medo faz acrobacia, borboletas a dançar

A garça branca de nuvem baila na solidão / Assim, nosso menino ganha asas da saudade

Se torna passarinho gorjeando em tom menor / Nos acordes da lira voou

No céu estrelado beijou a lua, adormeceu poeta

Sonhou azul-sossego, brincou de carnaval / Sonhou azul-sossego, brincou de carnaval

LALAIALAIALALAIALAIALÁ / LAIALAIALALAIALAIALÁ / LAIALAIALALAIALAIÁ

Sinopse:

Canta, passarinho, canta!

Canta sem parar!

Canta Juriti, canta Bem-te-vi

Canta Curió e Sabiá!

Refrão do samba de enredo do Acadêmicos do Sossego de 1984, “Natureza: o show não pode parar” (adaptado)

Sinopse do Enredo (em linguagem de primavera, na cor azul)

Ai, sossego de terras pisadas por mim…

E os silêncios caídos como folhas

Nos limites de uma tarde aberta…

Nem posso mais dar saltos-mortais nos ventos.

Agora

Eu passo as minhas horas a brincar com palavras.

Brinco de carnaval.

Como não furar lona de circo para ver os palhaços?

Aprendera no circo, há idos, que a palavra tem

que chegar ao grau de brinquedo

Para ser séria de rir.

Manoel de Barros

Deu corda nas engrenagens da mente, mambembe. Há sempre um caracol na cuca, girando em invenção perpétua. Se a “palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria”, é preciso, pois, brincar!

A revoada gorjeou em festa: chegou a caravana pantaneira, a trupe dos andarilhos, a manhã-passarinho, na raiz do mato!

Ali, na terra onde os quintais são maiores que o mundo, o circo armou sua lona. Memória inventada? Magia de pequeno! O Menino do Mato, Menino Passarinho, no infinito das estripulias, mal acreditou no que os seus olhos viram. Pingava o sol no florescer das águas.

Entre árvores e cascatas, teve início o turbilhão de graça. Tinha um quê de triste o Cachorro Vira-Lata, palhaço por opção. A turma não perdia o tom e a soprano explodiu cantando – estourou dentro dos sons (e a voz, ela era azul, como azul era o perfume que exalava, como azul era o mistério do menino – que era de bugre e de brejo, rupestre, aprendiz dos Marandovás e da nobreza do chão do mato). Arranha na corda-bamba, saltos e cambalhotas: podia, tal sinfonia? E assim se esculpia o orvalho.

Famílias sem dor nas costas equilibravam universos: os galhos pararam para ver a maravilha. Camaleão, ilusionista velho, pintou-se em um arco-íris. Mil cores se contorciam e a tarde caía branda, lenta, escorada nos arvoredos. O mundo se recriava.

As luzes tremelicaram quando o show se tornou bizarro: então trapezistas voaram, o Tatu se mostrou Canastra, o menino petrificado – era imenso o Jacaré feroz, no picadeiro da vida e da morte. Encarou-o e viu estrelas. Dançou com a Onça-Pintada.

Bailarina, branca de espuma e nuvem, a Garça brilhou sozinha. “As garças quando alçam se entardecem”, murmurou baixinho, assim, quase nada – porque é no nada, no pouco, no cisco, no mínimo, é aí, nas coisas pequeninas, sementes e formigas, que dorme a poesia. Fez girar o seu globo da sorte.

“Quando eu crescer eu vou ficar criança”.

“O meu amanhecer vai ser de noite.”

“Eu queria crescer pra passarinho…”

Se era lona ou se era o céu, rasgou como quem rasga o sono. Socós e Borboletas o levaram para longe; agarrou-se na crina do vento, beijou a face da Lua.

Virou, grandemente, poeta.

Sonhou em azul-sossego.

Brincou de fazer carnaval.

Em homenagem ao centenário de Manoel de Barros,

o pantaneiro fazedor de amanhecer

Dedicado ao menino Gustavinho,

que pegou carona na lira e voou…;

que sonhou em ver, novamente, o “show da natureza” no Sossego

Gabriel Haddad e Leonardo Bora – carnavalescos

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.