Série de Entrevistas – Porta-Bandeira da Intendente – Fernanda Araújo

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SÉRIE DE ENTREVISTAS COM MESTRES-SALAS E PORTA-BANDEIRAS DAS ESCOLAS DE SAMBA DA INTENDENTE MAGALHÃES

Nome: Fernanda Araújo

Profissão: Ass. de Regulação / Professora

Idade: Segredo de Estado (nem minha família sabe ao certo mais rs)

Escola do Coração: Eu amo o Carnaval e declarar amor a apenas 1 escola, é egoísmo demais, então digo que amo todas, respeito ao máximo todas as escolas de samba, seus enredos, sambas, SUA histórias. O nosso carnaval é muito rico. Apaixonante!

1. Como foi o seu início no samba?

Por mais incrível que possa imaginar, durante o período da minha infância, detestava carnaval, escola de samba, barulho, aglomerações, calor humano, eu era uma criança velha rs, típica neta criada por vó, aquela criança de apartamento chata. Mas minha família adorava, meus pais principalmente, íam pra Estação Primeira de Mangueira todos os fins de semana, e aquilo pra mim era a treva, uma tortura, a ponto de um dia, minha mãe estar sambando e eu fugi, desci correndo as escadarias de lá, então meu pai se deu conta do meu sumiço e foi atrás rs. Eu devia ter uns 8 anos. Mas aos 11 anos, desfilei pela primeira vez no GRESM Aprendizes do Salgueiro, pois o marido da minha tia era integrante da velha guarda de lá e aí tomei a primeira dose dessa “cachaça” e nunca mais parei.

2. Como você decidiu ser porta-bandeira?

De forma bem inusitada rsrs. O progenitor da minha filha, era do GRES Boêmios de Inhaúma, sempre estava presente nos carnavais ajudando, e me levou pra eu ajudar na ala de passistas de lá, e ele estava tentando arrumar um casal de mestre-sala e porta-bandeira; Mas devido a estar muito próximo ao carnaval, pois já estávamos no início de Janeiro de 2011, muitos casais já estavam comprometidos com as agremiações e os novatos tinham medo de se arriscar defender nota, ainda que no antigo Grupo E da extinta AESCRJ. Nunca fui derrotista, de achar que guerra está perdida por conta de uma batalha perdida rsrs. Então passei um fim de semana pensando, e decidi que iria fazer um “Intensivão” e aprenderia o mínimo necessário para ser capaz de defender nota. Todos apreciaram a ideia e incentivaram muito, rsrs. Ensaiava na base de 8 horas por dia, com a ajuda da Bárbara Falcão, e também da Cassiane Figueiredo e do Márcio. Foram fundamentais. Eles me ajudaram em tudo, com fantasia, coreografia, etc. Comecei ensaiando com o Vinícius Natal, mas devido a um compromisso de trabalho ele não pode continuar e o Yuri Souza, o substituiu, faltando umas 2 semanas para o carnaval. Graças a Deus deu tudo certo. As Notas vieram, mas a escola ficou entre as últimas colocações. Pensei em não continuar, mas a vida me convenceu a continuar.

3. Conte-nos a sua trajetória no Carnaval?

Como havia dito acima, comecei no carnaval desfilando no GRESM Aprendizes do Salgueiro em 1996; Apaixonei-me por alas de passista, paixão essa que trago comigo até hoje e acabei me tornando uma e ingressei em 1999 na ala de passistas do GRES Caprichosos de Pilares, e nessa função tive passagens por várias escolas como Portela, União de Jacarepaguá, Boi da Ilha do Governador, Alegria da Zona Sul, etc. Ainda como passista fui convidada a dirigir a ala de passistas da Acadêmicos da Abolição e mais tarde do Arrastão de Cascadura. Permaneci como Diretora do Arrastão até 2011. Em 2012 fui convidada a ser 1ª porta-bandeira do GRES Unidos de Manguinhos. No ano seguinte, fui 1ª Porta-Bandeira do GRES Difícil é o Nome por 3 Carnavais; Em 2016, GRES Império Ricardense, e atualmente defendo o 1º pavilhão do GRES Arrastão de Cascadura, cargo que ocupo desde 2019, devido ao convite do meu querido Presidente Armênio Erthal, e se Deus quiser espero poder continuar somando com a escola enquanto o universo permitir.

4. Conte-nos alguma saia justa/alguma dificuldade enfrentada em algum desfile?

No desfile da Unidos de Manguinhos (deixando claro que nada a me queixar da agremiação, aliás todos sempre foram maravilhosos comigo), pois o mestre-sala na época não estava muito feliz em ter que dançar comigo, por eu ser novata, não ter o perfil que muitos esperam em uma porta-bandeira; na época tinham muitas pessoas que me auxiliavam, como o João Paulo Machado, com aulas de ballet, e a Thais Romi (nesse ano ficamos amigas nas aulas do João), que ajudaria também com a parte da dança. Foram Anjos na minha vida. Nunca vou esquecer por tudo que fizeram por mim. Thais inclusive foi minha mestre de cerimônias por uns 3 carnavais. O mestre-sala não queria de jeito nenhum fazer ballet, porém acabou “engolindo” e indo. Ensaiamos a Coreografia de Jurado, mas quando já estávamos arrumados e prontos pra entrar na Avenida, ele me chamou e cochichou baixinho no meu ouvido:

– Esquece essa coreografia, você dança o seu que eu vou dançar o meu.

Que ódio que eu fiquei do indivíduo, mas se ele era ruim, eu era pior. Engoli seco, desfilei tensa, e prestando atenção em tudo, a roupa mega pesada… Eu sei que deu tudo certo, conseguimos os 40 pontos. kkkkk Chegamos na apuração sem falar um com o outro, e saímos de lá assim também mesmo com o resultado. Quando saí da escola, nos tornamos amigos e hoje damos boas gargalhadas dessa história.

5. O que o casal de MS e PB tem que fazer para conseguir a nota máxima?

O caminho é você amar o que faz; ter um parceiro, que seja seu cúmplice, pois a dança de mestre-sala e porta-bandeira é como um casamento, tem que ter cuidado, zelo, respeito; generosidade, compreensão. Precisamos ter a humildade em reconhecer que não sabemos tudo, permitir ouvir os mais antigos, e aprender com os nossos erros. Nossa dança é uma dança muito zelosa, afinal estamos exaltando e protegendo o nosso símbolo maior; Creio que temos estar sempre estudando, assistindo a desfiles antigos, com a finalidade de observarmos as mudanças na nossa dança com o passar dos anos, e filtrar nessa linha, passado e presente, o que é aceito, o que os Jurados hoje buscam nos casais. E a partir desses estudos criar a coreografia do desfile, onde o samba seja cantado nos movimentos da dança, com gestos suaves e terminações limpas, e jogos de olhares, e sem deixar com que a tradição da dança seja esquecida e sem tornar esse momento artificial, caricato, pois quebra o encanto.

6. Além do Arrastão de Cascadura, você estará desfilando em outras agremiações?

Não.

7. Quem são os seus ídolos no carnaval (na função)?

São muitas, mas vou filtrar pelo meu tempo de admiração (antes de me tornar porta-bandeira) e por até hoje não ter mudado de opinião e que estão dançando atualmente. Marcela Alves (1ª Porta-Bandeira do Salgueiro), ela é uma princesa; e Danielle Nascimento (1ª Porta-Bandeira da União da Ilha).

8. Um carnaval inesquecível?

O carnaval de 2005 com toda certeza.

9. Você já desfilou na Marquês de Sapucaí como porta-bandeira?

Não.

10. Qual é o seu maior sonho?

Que essa pandemia acabe, e que possamos voltar a viver com qualidade, sem a notícia de tantos mortos diariamente, de pessoas em situação de miséria por causa da pandemia. Já disse um poeta através das linhas de um samba: “Eu quero viver, a vida gozar/ saber ser feliz e aproveitar…”

Pra mim, sonho é estar em paz e ver a todos que eu amo em paz, felizes; ter saúde para conseguir ir atrás dos meus objetivos pessoais e profissionais… Mas sonho também com a conquista da Nota máxima, junto ao meu mestre-sala Pedro Figueiredo, e ver o nosso Arrastão sagrar-se campeão no carnaval (com respeito as coirmãs).

11. Como está a sua preparação para 2022? Ensaios?

Estamos ensaiando bastante rs; fazendo aulas de ballet, alongamento, estudando, e treinando firme para obtermos um bom resultado. Temos um apoio forte da nossa escola, com uma boa estrutura para que essa preparação ocorra. Somos uma equipe. A nossa coreógrafa Renata Monier e a assistente dela Jully Borges, não nos dão refresco, mas entendo que é por uma boa causa. A nossa função exige que estejamos bem fisicamente e mentalmente. Quando falo de físico é que tenhamos uma estrutura corpórea capaz de suportar o peso da fantasia, assim como demonstrar a leveza que a dança de MS e PB pede; A Renata é uma mãezona, ela conversa muito com a gente, puxa a orelha quando precisa. o trabalho dela conosco é fundamental.

12. Como você enfrentou/está enfrentando a Pandemia da COVID19? Você chegou a ter a doença?

Isolamento social, sem visitas, festas, aglomerações. Muito álcool em gel, tomando todas as medidas que são defendidas pela ciência. Graças a Deus, na minha casa, nenhum de nós tivemos Covid!

13. Quais são as suas expectativas para o próximo carnaval?

As melhores possíveis. Tenho fé que faremos uma apresentação memorável para o público na Intendente Magalhães. Estamos trabalhando arduamente pra isso. Nosso presidente Armênio e a sua diretoria não estão medindo esforços pra que a escola venha impecável. Com o máximo respeito as coirmãs. E também, no próximo carnaval, vai ser aquele carnaval de curtir e esquecer o nome, pois a sede de poder brincar, curtir e estar junto vai ser muito grande.

14. Deixe-nos uma mensagem para a galera que acompanha o Carnaval da Intendente.

Se Deus permitir, teremos um carnaval lindo, alegre e grandioso, como sempre é a nossa festa da Intendente Magalhães. Sei que todos nós estamos cansados, devido a esse momento de pandemia e queremos nos livrar logo desse tal Vírus e tenho muita fé que vamos. Mas pra isso, precisamos muito fazer a nossa parte. Nada de aglomerações galera. Usem máscaras, bastante álcool 70%, lavem as mãos com frequência. Sigam as recomendações da Ciência. Vacinem-se, quando for o tempo de vocês. Parece clichê, mas é um apelo para que a gente consiga vencer. Para o próximo Carnaval quero muito encontrar todos vocês, e tenho certeza que todas as agremiações que vão passar por ali estão preparando um grande espetáculo pra gente celebrar a vida com muito samba no pé!!! Um beijo em todos vocês.

Muito obrigado Fernanda Araújo pela participação e ótimo carnaval!

Trajetória da Porta-Bandeira

Fernanda Araújo

Ano Escola Mestre-Sala Grupo Enredo Função
2011 Boêmios de Inhaúma Yuri Santos E “Vem quente que estou fervendo. A Boêmios de Inhaúma é fogo!” 1º Casal
2012 Unidos de Manguinhos Wallace Pessoa D “Manguinhos canta: mulheres mangueirenses, orgulho da comunidade… orgulho da nação… 1º Casal
2013 Difícil é o Nome Willian Miranda B “Rio de Janeiro, o filme!” 1º Casal
2014 Difícil é o Nome Willian Miranda C “Raio de luz: para os negros, os tambores africanos clamam aos orixás a liberdade” 1º Casal
2015 Difícil é o Nome Roberto Vinícius Gama C “Difícil é o Nome entrou na roda para brincar!” 1º Casal
2016 Império Ricardense Douglas Valle E “Meu lugar…” 1º Casal
2017 Império Ricardense Willian Miranda E “La ultima noche de carnaval” 1º Casal
2018 Império Ricardense Willian Miranda D “Awré Bambá Lázaro: O mensageiro do Oriki de Olodum” 1º Casal
2019 Arrastão de Cascadura Willian Miranda E “Casca D’Ouro” 1º Casal
2020 Arrastão de Cascadura Willian Miranda E “Orumilá – Os encantos da terra ao destino da vida!” 1º Casal
2022 Arrastão de Cascadura Pedro Figueiredo Série Bronze “Frevança” 1º Casal

 

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