Bloco Carnavalesco Cultural Recreativo Raízes da Tijuca
Enredo: Raízes nos Palcos do Coração do Rio – Carnaval 2022
Presidente: Sebastião Pinto Gonçalves
Carnavalescos: Irmãos Marques (Selma Marques e William Marques)
No Brasil tudo sempre deu samba! Desde os primeiros desfiles das escolas, na década de 30, no país sempre tivemos acontecimentos que serviram de tema para as agremiações fazerem o seu carnaval e se apresentarem em vários palcos “montados e desmontados” no Rio de Janeiro a cada ano, antes de a Passarela do Samba na Marquês de Sapucaí ser oficializada como palco definitivo no dia 2 de março de 1984.
Sendo assim, o carnaval carioca trata-se de uma manifestação popular mundialmente famosa, constituída por diferentes tipos de cultura em desfiles de Escolas de Samba, Bailes de Gala, festas móveis dos blocos de rua seguidos por seus foliões fantasiados e atualmente está consolidado no Livro dos Recordes como o maior carnaval do mundo, inclusive promovendo competição entre agremiações.
Já desde meados do século XIX, as pessoas saiam às ruas da cidade maravilhosa para se divertirem e pular o carnaval em qualquer tipo de “organização ou desorganização” carnavalesca, ao som do ritmo das Marchinhas, que era um gênero musical com origem nas marchas populares portuguesas e foi o principal ritmo do Carnaval brasileiro da década de 1920 à década de 1960, e tiveram a pianista Chiquinha Gonzaga como mãe de composição. As marchinhas atingiram seu auge com as interpretações de nomes consagrados da música popular brasileira, entre eles Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, João de Barro, o Braguinha, Noel Rosa, Ary Barroso e Lamartine Babo.
Nos anos 30, o prefeito Pedro Ernesto oficializou o Carnaval carioca e a partir daí, a cidade passou a brincar também em grupos de categorias separadas como Blocos, que eram brincadeiras de manifestação popular nas ruas; Ranchos, que eram cordões mais organizados cujo os foliões se fantasiavam com fantasias de luxo e se apresentavam numa ala coreografada ritmada com instrumentos de sopro e cordas; os Cordões, grupos que se fantasiavam de formas variadas e apitos, conduzidas por um mestre e eram menos organizados que o anterior; os Zé Pereiras, tocadores de bumbo que tocavam nas procissões em Portugal e que surtiu grande influência para os carnavais da atualidade; o Corso, grupos de famílias que desfilavam em cima de seus luxuosos carros pelas ruas de forma ordenada e que ao se cruzarem em alguns pontos, acontecia uma desorganização em meio a competição de confete, serpentina e lança perfumes – famosa festa das flores-; e a sociedade em geral que saiam em grandes grupos numerosos fazendo das ruas do centro do Rio, além de outros lugares da cidade maravilhosa, um grande cenário para o carnaval carioca.
Dos Ranchos carnavalescos, destacamos a primeira agremiação do carnaval carioca a “Rei de Ouro” criada em 1893 qual desfilavam os foliões que podiam pagar as suas fantasias. Já a classe menos abastarda, cujo a maioria eram negros, desfilavam nos Blocos e nos Cordões, e estas apresentações normalmente aconteciam no coração da cidade do Rio de Janeiro, nas imediações da Praça Onze.
Nessa época também surge o “bloco dos sujos” pelo centro do Rio, chamados assim porque as pessoas saiam para curtir a folia depois do trabalho sem banho, e seus componentes usavam fantasias improvisadas com máscaras de caveiras e lençóis amarrados pelo corpo, dando origem aos Clóvis.
No início do século XX, com o fim da escravidão e chegada de estrangeiros ao Rio, a Praça Onze se transformou em um espaço com um ar cosmopolita e agregador, tendo como destaque o espaço da casa da Tia Ciata, uma negra considerada primeira-dama das comunidades da “Pequena África”, assim chamada a sua casa, foi consagrada como reduto da resistência, da música, da fé e frequentado por vários nomes importantes dentre autoridades políticas, pessoas do samba que se consagraram e outros.
Foi da casa da tia Ciata que saíra o primeiro samba carnavalesco – Pelo Telefone – criado por Donga em 1916 e registrado na Biblioteca Nacional como história para o país no tempo em que o samba ainda era visto como “coisa de vagabundo”.
Ainda em 1840, a alta sociedade carioca já havia começado a realizar bailes de carnaval embalados por ritmos oriundos dos costumes europeus. Da contribuição dos Corsos e o Entrudo, atualmente vemos a manifestação destas brincadeiras nos lança perfume, confetes, serpentinas e spray de espuma nos carnavais.
Ainda na segunda metade do século XlX começaram a surgir os bailes de carnaval em diversos clubes espalhados pelo Rio com seus bailes de gala e máscaras, onde até a meados da década de setenta, o baile de gala do Theatro Municipal do Rio de Janeiro era destaque no Brasil. Todo ano atrações internacionais eram convidadas para a festa com direito a mordomias e melhores hotéis, e os foliões só podiam participar dos bailes se comparecessem com traje a rigor ou fantasiados.
O Baile de Gala do Municipal, que era realizado na segunda feira de carnaval, era famoso pelo tradicional concurso de fantasias onde Graças a revista O Cruzeiro e, mais tarde, também à Manchete, sempre havia uma expectativa imensa sobre o resultado daquele concurso cujo desfile dos vencedores ocorria a meia noite. Durante o evento costumava consagrar as músicas mais cantadas pelos foliões onde em 1967 só se cantara Máscara Negra de Zé Kéti.
Dentre os grandes mestres de fantasias e fantasias de Gala, podemos destacar o professor da Escola de Belas Artes e cenógrafo do Theatro Municipal do Rio de Janeiro da época, Fernando Pamplona, que confeccionando o desfile de 1960, levou a Salgueiro a conquistar o seu primeiro campeonato, com o enredo “Quilombo dos Palmares”. Também nesse período, a escola inovou na escolha dos enredos homenageando personalidades brasileiras negras, na época pouco conhecidas, como Zumbi dos Palmares (em 1960), Xica da Silva (em 1963), Chico Rei (em 1964) e Dona Beija (em 1968). Também com ele que a Salgueiro foi a primeira escola a fazer um enredo sobre uma personalidade feminina negra, como “Xica da Silva”, se tornando a primeira escola a apresentar uma ala de passos marcados, “o minueto”, com a colaboração da primeira bailarina negra premiada no Theatro Municipal, Mercedes Baptista.
O último Baile de Gala do Municipal do Rio foi realizado no carnaval de 1975 e a despedida foi melancólica. Ao apagar das luzes, lá pelas cinco da manhã, “estourou” um conflito generalizado entre os foliões, a maioria alcoolizada, resultando em prejuízos enormes para o edifício, símbolo da cultura artística carioca e assim terminaram os Bailes de Gala do Municipal que durante meio século projetaram no exterior as imagens marcantes do carnaval brasileiro.
O que nos remete ao comentarista de carnaval Milton Cunha, memorando sobre os acontecidos no Theatro Municipal, mencionou de forma divertida, que muita gente acabava indo preso durante o carnaval e eram libertados na Quarta-Feira de Cinzas, com o seguinte comentário: “Na quarta-feira, abrem a delegacia e sai uma fauna fantasiada, era um baile dentro da delegacia”. Se reportando aos brigões do dia da folia, que compunham o bloco dos foliões detidos durante o carnaval e libertos na Quarta-Feira de Cinzas.
Nos primeiros anos da república, a festa do carnaval ganhou contornos populares mais contundentes e uma parte significativa dessas pessoas que saíam para curtir a festa, era composto por descendentes de escravos que ocupavam os cortiços, e imigrantes que chegavam na região do porto do Rio, quais “montavam e desmontavam” o seu palco onde estivessem, com objetivo expressivo e subversivo a cidadania roubada. O carnaval de rua sempre existiu e mesmo com as obras do entorno da Praça Onze, objetivando a modernização na região que levou a demolição dos cortiços para a abertura da avenida Presidente Vargas, os antigos moradores desses cortiços ocuparam os morros e as favelas do entorno do espaço do coração do carnaval carioca e lá brincavam livremente seus carnavais. Sendo a maioria descendentes de escravos, puderam contribuir em seus carnavais com o acréscimo de elementos de sua cultura, tais como o batuque, a dança, a religião e a sua ginga que mais tarde foram incorporados na cultura do Carnaval do Rio.
Atualmente, os carnavais de rua que acontecem em todo o grande Rio representam a principal forma de expressão carnavalesca dos cariocas. A Lapa, por exemplo, representa um lugar de destaque para os cariocas que vivem e gostam das noitadas, e tem este local como um palco de representatividade de suas diversas forma de manifestação cultural. Já o bar Baródromo, situado na Lapa, se consagrou o templo do carnaval carioca fora dos desfiles na Sapucaí e continua sendo um dos pontos de encontro dos foliões durante todo o ano até hoje.
Hoje vemos essa grande festa popular com outros olhos. Temos nestes dias uma grande manifestação de pessoas miscigenadas em seu aspecto político, econômico e racial a fim de brincar os quatro dias livres de carnaval. Esse grande evento repercute em vários grandes palcos que no decorrer da história carnavalesca, encantaram, anunciaram, cederam seus espaços e abriram as portas para os foliões se envolverem nos seus dias de liberdade a fim de apreciar e viver o carnaval. Dentre muitos, destacamos os Teatros, os Cassinos, as casas noturnas, os Hotéis, além das ruas e avenidas que montam e desmontam seus palcos.
Atualmente, milhares de foliões atravessam em desfiles organizados em agremiações de enredo pela Marquês de Sapucaí, consolidando-a como maior palco do carnaval carioca, Passarela do Samba ou Sambódromo e assim, configurando o Rio de Janeiro como o maior palco do carnaval carioca para o mundo nos dias de hoje.
Porém, os foliões ainda ocupam as ruas seguindo os diferentes tipos de blocos que se organizam para desfilar antes, durante e após os 4 dias de carnaval, principalmente pelas ruas do centro do Rio. Alguns destes blocos são de tema livre e outros são chamados blocos de enredo, que consistem em organizar seus desfiles pautados num tema previamente escolhido, e que competem uns com os outros em desfiles realizados em diferentes locais do Rio. O Bloco Carnavalesco Raízes da Tijuca vem com o enredo “Raízes nos Palcos do Coração do Rio”, para rememorar os palcos do coração do carnaval carioca.