A data de criação da Unidos de Cabuçu é 28 de dezembro de 1945. Esta data só foi oficializada anos depois, porque na primeira reunião não houve uma ata para registrar.
A Unidos do Cabuçu surgiu de um bloco de carnaval na rua Dona Francisca cujo responsável era Valdinar, mais conhecido como Naná. Quando Waldomiro José da Rocha, o Babaú da Mangueira, se mudou para aqueles lados, percebeu que o bloco tinha tudo para ser uma escola de samba. Luiz Carlos da Silva, o Luiz do armazém “Rabinho de Porco”; Alcebíades Senna de Souza; João da Silva, o João Taú; Orlando Ribeiro, o Orlando Carne Seca; Azul Ferreira da Silva; Jairo Marques da Silva; José dos Santos, o Zé Macaco; Ylan Álvaro da Silva; Manoel José da Cruz, o Manezinho; Fernando Raposo, o Serrinha; e Oswaldo Cunha, o Dureza, junto com Babaú fundaram a Unidos do Cabuçu em um sábado depois do Natal, em dezembro de 1945. As cores azul e branco e o nome de Babaú como presidente foram decididos naquele dia. Mais tarde, Wivaldo Antunes, desenhista e carnavalesco, criou o brasão com os dois leões, que simbolizam a força e a união.
Os primeiros ensaios foram realizados na casa de Dona Maria, que era baiana da Portela, e sua irmã Edite, que logo desfilaram pela nova escola. Logo em seguida, compositores foram convidados a fazer parte da diretoria, nomes consagrados na localidade ou fora do bairro.
Durante alguns anos, a escola desfilou somente com uma licença do Distrito Policial. Depois desse tempo, a Delegacia exigiu que fosse elaborado o estatuto da escola para liberar a participação no desfile. Foi ainda anos mais tarde que a razão social foi mudada para se diferenciar das outras escolas e se tornou S. E. R. E. S. Unidos do Cabuçu e registrada na União Geral das Escolas de Samba.
O primeiro desfile oficial da Cabuçu foi no carnaval de 1947, na Praça Onze, tendo como enredo “O compositor desprezado”, com samba de Babaú. Nesta época, não havia divisão e quase 40 escolas de samba desfilaram. Um ano depois, a Unidos do Cabuçu desfilou com 38 componentes, incluindo a bateria, o enredo “Brasil, Celeiro do Mundo”. Em 1950, aconteceu a primeira classificação das escolas e, como a Unidos do Cabuçu havia feito um desfile péssimo em 1949, foi para o segundo grupo. Em 1956, a escola fez bonito com o enredo comemorativo do centenário do Corpo de Bombeiros, com samba de autoria de Iba Nunes e Jorival de Moraes.
Em 1961, a Escola ganhou o segundo grupo com “Relíquias do Rio Antigo”, samba e enredo de Moacir Soares e Alcebíades de Souza voltando ao primeiro grupo.
Em 1964, a Cabuçu desceu para o terceiro grupo, voltando em 1969 para o segundo, descendo de novo no ao seguinte. Em 1976, com o enredo “Reisado nas terras das Alagoas”, voltou ao segundo grupo. Em 1977 apresentou o enredo “Sete Povos das Missões” e foi desclassificada por entrar atrasada no desfile e com um carro alegórico andando de lado. Foi um dos piores carnavais da história da escola: o presidente José Ferreira Leite havia levado um tiro, uma bala perdida em um festival de chope, e a Cabuçu tirou nota zero.
A partir da década de 1980 a escola se fortaleceu, chegando ao Grupo Especial durante a presidência de Therezinha Monte, uma das mais atuantes presenças femininas no mundo do samba.
Em 1984 tendo como presidente a jornalista Therezinha Monte sagrou-se a 1ª Campeã da Passarela do Samba com o enredo “Beth Carvalho, a Inovadora do Samba” no grupo 1-A.
O primeiro mestre-sala da escola foi o Mineirinho. E pela escola passaram grandes nomes, como Cidinho, que foi Estandarte de Ouro em 1977; Jorge Bossa Nova, Zerinho, Élcio PV (depois Vila, Salgueiro e Beija-Flor) e Ronaldinho (depois Império da Tijuca, Salgueiro, Grande Rio etc.), entre tantos outros, A primeira porta-bandeira foi Iara Gonçalves, depois vieram Maria de Lurdes, que veio do Bloco Saturno do Engenho Novo, Didi, do Morro do Amor, Cenira, Jacirema, Lenira e Vilma, entre muitas outras.
Esta é a Cabuçu e mais de 70 anos de samba.
Por Iba Nunes
*Texto de Iba Nunes com pequenas alterações.
Iba Nunes foi puxador de corda, carregou os instrumentos da bateria, foi secretário, tesoureiro, compositor, criou a Ala dos Compositores da Unidos do Cabuçu, da qual foi presidente, e componente da Velha Guarda.
Fonte: Livro Therezinha Monte Alma de Cabrocha – Uma autobiografia cheia de samba. Editora Folio digital
Foto: Edson Siqueira