A Borboleta estreou na Intendente Magalhães com vitória em 1989
Originada na década de 20, quando da existência de algumas chácaras com plantações de hortaliças (daí o nome Rocinha), a comunidade foi inicialmente rotulada de favela, mas reconhecida como bairro pela prefeitura desde 1993. Abriga aproximadamente 100 mil habitantes. Fica localizada no Morro Dois Irmãos, entre São Conrado e Gávea, e encontra-se com a Mata Atlântica, próximo à Floresta da Tijuca, o que proporciona uma bela paisagem natural com a praia e o bairro de São Conrado, a Pedra da Gávea, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o morro do Corcovado e o bairro da Gávea.
A comunidade da Rocinha tem na maioria de sua população, emigrantes nordestinos, que desde de 1930 chegam ao Rio de Janeiro em busca de trabalho e melhores condições de vida. Mesmo com a maioria nordestina, a Rocinha é considerada um Pólo de Culturas, onde tem o forró como ápice, mas carrega também o samba nas suas raízes e se enlaça a outros gêneros.
Haviam três blocos carnavalescos na Rocinha. O mais antigo chamado Império da Gávea nas cores azul e branco, sua quadra funcionava no atual estabelecimento da escola (Rua Bertha Lutz, 80) e tinha 22 anos de formação. O segundo bloco chamava-se Sangue Jovem, suas cores eram o vermelho e branco, sua sede era na Estrada da Gávea, 250 e tinha 14 anos de formação. E o terceiro e mais jovem era o Unidos da Rocinha, nas cores verde e branca, funcionava na escola Paula Brito, porque não tinha quadra e tinha 6 anos de formação.
A Rocinha passou por uma fase turbulenta. Os três blocos estavam filiados à FBCERJ e ganhavam muito pouco dinheiro para fazer o carnaval, sendo que nem houve desfile dos blocos de enredo em 1988 por falta de subvenção da prefeitura.
Então os três blocos resolveram entrar em um consenso e formar uma Escola de Samba.
Os representantes do blocos Império da Gávea, Sangue Jovem e Unidos da Rocinha, no dia 30 de março de 1988, às 20:30h, no Centro Comunitário da Rua Um, “União Faz a Força”, fundaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, nas cores verde, azul e branco, na presença de 42 sócios fundadores. Ailton Roza foi escolhido como presidente da nova agremiação.
A escola tem como logo a borboleta – símbolo criado originalmente por Marquinhos do Armazém e simbolizava a liberdade de uma nova era no bairro. O lema adotado pela escola era “A caminho da glória”.
Relação dos 42 sócios Fundadores da Escola:
01 – Ailton da Silva Roza “O Servente”; 02 – Ivan Martins; 03 – Álvaro Luiz Gomes do Amaral “Tio Lua”; 04 – Jonas da Conceição; 05 – Paulo Roberto Barbosa “Paulinho Alemão”; 06 – Lourival da Silva “Louro”; 07 – Ruth Batista; 08 – Sebastião dos Santos “Tiãozinho da Rua Dois”; 09 – Francisco das Chagas Nascimento “Cic”; 10 – José Guilhermino de Sousa; 11 – Jorge Collaro; 12 – Avelino da Silva; 13 – Jorge Wagner da Silva “Pipoca”; 14 – Sérgio Augusto Coelho “Gim da Rua Um”; 15 – Ivan Ferreira de Souza; 16 – Sérgio Ferreira da Silva; 17 – Édson Antônio da Conceição; 18 – Carlos Maxiliano do Rego Monteiro “Max”; 19 – Carlos Roberto Pupo Pedra “Beto Pedra”; 20 – Rozeane de Souza “Mariquinha”; 21 – Denis Leandro da Silva; 22 – Luiz Cláudio Oliveira da Silva “Mestre Cláudio”; 23 – José Paulino da Silva “Manjá”; 24 – Jorge Luiz Nascimento da Silva “Jorge Mamão”; 25 – Francisca Elizia de Medeiros Pirozi “Dona Eliza”; 26 – Valdinês Dias de Oliveira; 27 – Sueli Cândida da Silva; 28 – Sebastiana Leonora da Motta “Dona Sebastiana”; 29 – José dos Santos Dias “Zé Meleca”; 30 – Ailton Araújo Ferreira “Macarrão”; 31 – Angelino Cunha “Tiãozinho da Cidade Nova”; 32 – João Batista da Silva “Pavão”; 33 – Iolanda Vicente Martins; 34 – Sérgio Roberto do Nascimento “Da Bola”; 35 – Marilene Martins da Costa “Lena”; 36 – Marly de Souza Silva; 37 – Lúcia Fátima de Jesus Lira “Luluca”; 38 – Patrícia Ribas Assunção; 39 – Dayse Silva Dudley; 40 – Wander Rosa da Silva; 41 – Edson Campos Lopes; 42 – Izabel Custódia dos Santos “Tia Mocinha”.
A escola foi oficialmente apresentada no dia 17 de julho de 1988 numa grande festa realizada na garagem da empresa de ônibus Transportes Amigos Unidos (TAU), na Estrada da Gávea. A Acadêmicos da Rocinha foi batizada pelos “banqueiros” do jogo do bicho Castor de Andrade, presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, Anísio Abraão David, da Beija-Flor de Nilópolis, Valdomiro Paes Garcia “Miro”, do Salgueiro, e o “Capitão” Aílton Guimarães Jorge, Presidente da LIESA.
A Acadêmicos da Rocinha desfilou pela primeira vez no ano de 1989, na terça-feira de carnaval no Grupo V ou grupo de Acesso com o enredo “O Esplendor dos Divinos Orixás”. Sua estreia foi na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho. O grupo V era formado por blocos que viraram escolas de samba naquele ano.
A escola foi a quarta a se apresentar e desfilou um carnaval ao melhor estilo do 1º Grupo. Apresentou uma bateria com 180 ritmistas, 80 baianas representaram Nanã, 170 crianças vieram de erês, 14 alas (80 componentes em cada) representaram os orixás, cada um na sua cor, 1.200 componentes, 03 carros alegóricos e 11 Oxalás negros integrantes na comissão de frente. Artistas como Elymar Santos e Elza Soares desfilaram no carro Abre-Alas. O 1º Casal de MS e PB era formado por Nêgo Luiz e Silvana e o mestre de bateria era Luiz Cláudio Oliveira da Silva “Mestre Claudinho”.
O primeiro samba da Borboleta Encantada foi composta por Mais Velho, André Luiz, Serginho Botafogo, Marcelo Baluaê, Pipoca e Didi e foi cantado na avenida pelos puxadores Ilka Maravilha e André Luiz “Zezé da Rocinha”. Confira o áudio do samba-enredo da Rocinha:
De cara, a agremiação obteve a primeira colocação do grupo e conquistou o direito de desfilar no Grupo 3 em 1990, quando também obteve o campeonato quando apresentou o enredo “Um Coração Chamado Brasil”. Em 1991, pelo Grupo 2, a Rocinha mais uma vez foi campeã e ascendeu para o Grupo 1. O enredo de 1991 foi “Do esplendor da Roma Pagã, ao Despertar da Rocinha”. Os três primeiros carnavais da escola foram desenvolvidos pelo carnavalesco Joãosinho Trinta e fantasias de Viriato Ferreira.
Chegando ao Grupo 1, em 1992, a escola faz um excelente desfile com o enredo “Para não dizer que não falei das flores” do carnavalesco Carlinhos de Andrade. Destaque para o belíssimo samba apresentado. A escola terminou na 5ª colocação.
A escola desfilou no Grupo Especial em duas oportunidades: 1997 e 2006.
A estreia da escola na elite do samba, deu-se de forma ousada, pois trouxe um enredo sobre a Disney – “A viagem encantada do Zé Carioca à Disney” – mas não conseguiu um bom desempenho ficando em último lugar do grupo principal, retornando ao Grupo 1. Mas, a escola foi premiada com o Estandarte de Ouro de melhor passista masculino de 1997, para Zé Luís da Silva. Esse é o único prêmio Estandarte de Ouro da agremiação.
A escola foi campeã do Grupo B nos anos de 1999, com o enredo “1999, fim do século! Recordar é Viver“, e em 2001 apresentando o enredo “… E Deus criou a mulher“.
Em 2005, a tricolor da Zona Sul foi campeã do Grupo A com o enredo “Um Mundo sem fronteiras“, do carnavalesco Alex de Souza, e ascendeu ao grupo principal.
Em sua segunda passagem no Grupo Especial, novamente a escola não foi feliz no Carnaval de 2006. A Rocinha apresentou o enredo “Felicidade não tem preço“, desenvolvido pelo carnavalesco Alex de Souza, e enfrentou sérios problemas com carros quebrados e a chuva que não deu trégua. A escola terminou na última colocação e voltou para o grupo de acesso.
Em 2015, a escola desfilou no Grupo B o enredo “Borboleteando nos destinos da vida! O que te desafia, te transforma“. O desfile foi Estrada Intendente Magalhães e a escola foi mai uma vez campeã, retornando à Marquês de Sapucaí.
Hoje a Borboleta retorna, mais uma vez, para onde tudo começou, a Estrada Intendente Magalhães, para novamente recomeçar o seu voo “a caminho da glória”.
Por Marcos Guerra Couto
Fontes:
Samba na Intendente
Galeria do Samba
Academia do Samba
Rocinha.Org
Jornal O Globo