Confira a Sinopse e o Regulamento do Concurso de Samba-Enredo para 2024 da Alegria do Vilar

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GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA ALEGRIA DO VILAR

CARNAVAL 2024

ENREDO: PARA SEMPRE JORGE LAFFOND

Presidente: Júnior Reis

Vice-Presidente: Marcelo Gonçalves

Conselho Deliberativo: Chiquinho do Bar

Presidente da Ala dos Compositores: Marquinhos Rosali

 

JUSTIFICATIVA DO ENREDO

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Alegria do Vilar traz para o carnaval 2024 uma homenagem ao artista multiforme Jorge Laffond, que, por muitos anos, transgrediu a família tradicional brasileira e levou para dentro de suas casas seu corpo negro-bicha, sobretudo, com as suas performances como drag queen com a personagem Vera Verão. Transgride por ser divergente de tudo o que se espera – preto, bicha e suburbano – e por se sobressair num espaço onde normalmente seria excluído. A personagem do humorístico, é muito bom lembrar, é apenas uma parte da sua brilhante carreira. Não somente ela.

Antes de ser Laffond, Jorge era Luiz de Souza Lima, que não sucumbiu à violência operada pela política necrófila que dizima a população negra brasileira. Apoiado por sua família, principalmente a sua mãe, estudou balé e dança contemporânea africana até se profissionalizar e chegar à faculdade, quebrando aí mais um paradigma.

Além do humor e da gaiatice, instrumentos muitas vezes utilizados como defesa, Laffond ainda dá três tapas na cara da caretice quando expõe seu corpo carnavalesco para o mundo ver. E não à toa, vejam só, prontamente associam a sua imagem à promiscuidade, porque, logicamente, o preconceito precisa operar de alguma forma, o tempo todo.

A pauta LGBTQIAP+ é muito séria e urgente. O Brasil é o país que mais mata gays, lésbicas, transexuais e travestis no mundo. Ainda, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil.

Portanto, homenagear um artista como Laffond é dar voz a tantas pessoas como ele, mas que têm seus talentos ofuscados pelo preconceito. Parem de nos matar!

Observação

Embora o personagem Vera Verão seja popular, há muito pouco conhecimento produzido a partir do legado de Jorge Laffond, num visível apagamento da sua memória. O racismo e a LGBTfobia também operam dessa maneira. Isso também é matar alguém.

O texto de orientação para os compositores se apresenta em primeira pessoa, com o Laffond se referindo a si próprio sempre no feminino.

 

SINOPSE

Antes da apresentação, no camarim, diante do espelho, fico nua. Meu corpo, que ninguém conseguiu domar, é pura indecência e transgressão. Deslumbrada com o meu reflexo, acaricio suavemente meu rosto e vejo como sou forte. Satisfeita, sorrio. Lembro que em mim mora a alegria de ser, muitas vezes silenciada.

Meu corpo grita! Sozinha, rodo, gargalho, enceno no camarim. Falo comigo mesma. E me dou conta: EU EXISTO! Aqui, comigo mesma, sou Jorge Luiz Souza Lima. Bicha sim. Preta. E artista. Sou o rastro das minhas memórias, do que me fiz e tornei.

Toca o primeiro sinal.

Sou uma sobrevivente do subúrbio do Rio de Janeiro. Desde muito criança, já tinha consciência da minha sexualidade e a minha saída foi estudar. Não podia, que besteira, desapontar a minha mãe. Logo ela, de tanta fibra que aguentou tudo o que um divórcio naquela época podia trazer. Ficamos eu e ela. A conta não fechava. Fui então trabalhar numa oficina mecânica e, nos finais de semana, ajudava-na num parque de diversões. Foram tempos difíceis, nebulosos, carregados; mas, como meu pai Oxumarê, risquei um arco-íris para fazer a vida mais colorida!

Meu corpo-arte clamava por desenvolvimento. Fiz aulas de balé clássico e dança contemporânea africana. Sempre muito aplicada, me profissionalizei. Minha dedicação me abriu portas, muitas vezes fechadas, pois insistem que bicha – ainda mais preta – deve ficar para sempre escondida. Com a arte – e pela arte -, encontrei a negra liberdade na companhia de Haroldo Costa, com a qual viajei em turnê pelo mundo com o espetáculo O Brasil Canta e Dança. Meu corpo-movimento também se aquilombou no balé folclórico de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Contrariando todas as expectativas, fui parar no balé do Fantástico. Dali em diante, a bicha-preta-suburbana conquistou o seu espaço na TV.

Ah, a televisão… Seu Chacrinha era meu maior ídolo. Na minha infância, a minha brincadeira preferida era reunir a garotada e comandar o show como o Velho Guerreiro. Aquilo tudo me fascinava. Meu corpo-expressão se formou na faculdade de artes cênicas, na qual aprendi a dar vida a tantos personagens da TV, como Bob Bacall em Sassaricando, Madame Satã em Kananga do Japão e a inesquecível entidade, aquela que me acompanhava desde pequena, a Vera Verão. Ah, e também, veja só, dei o ar da minha graça em peças de teatro e nos cinemas pelo Brasil afora.

Toca o segundo sinal.

Imagina, quanta petulância dessa bicha preta de se expor dessa maneira! Eu, por mim, sinto a minha pele como um fato. Na Marquês de Sapucaí, causava o maior rebu ao desfilar soberana, quase como vim ao mundo. E a minha passagem era sempre aguardada como a de uma verdadeira imperatriz. Meu corpo é o reflexo do samba. E o samba sou eu. Eu sou o meu corpo-liberdade, leve e solta no carnaval!

Eu sou a alegria e a ousadia. Minha história resistiu ao tempo e a toda essa gente careta que sempre fez de tudo para que eu não existisse e que, com seus preconceitos, tentou me apagar. E eu não sucumbi. Quando eu penso em quantas portas de armário eu ainda posso ajudar a abrir e tantos jovens pretos e periféricos, como eu, posso ajudar a acolher, fico muito satisfeita. Só assim o meu corpomanifesto será eternizado.

E agora cá estou. O terceiro sinal já tocou. É hora do show! Avante, Alegria do Vilar!

Idealizador do Enredo: Júnior Reis

Texto e Pesquisa: Raphael Homem

Colaboração e Revisão: Eduardo Gonçalves, Igor Damásio e Mateus Pranto

Carnavalescos: Levi Cintra e Raphael Homem

Inserções no texto de “A Descoberta”, de Clarice Lispector e “Incursões sobre a pele”, de Nei Lopes.

 

FONTES CONSULTADAS:

Gênero, corpo, conhecimento./ Alison M. Jaggar, Susan R. Bordo [editoras]; tradução de Brítta Lemos de Freitas. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.

FILGUEIRA, André Luiz de Souza. CORPO-NAVALHA MILITANTE: EM TORNO DO PRETO-GAY JORGE LAFFOND. Revista nós: cultura, estética e linguagens, 2021.

Site Geledés: Disponível em: <www.geledes.org.br/o-corpo-navalha-de-jorgelaffond-e-um-ativismo-pilintra-preto-gay/>. Acesso em: 26 abr. 2023.

PRANDI, Reginaldo. A mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Programa De Frente com Gabi: Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=el_3mr9E1Bo<. Acesso em: 26 abr. 2023.

 

REGULAMENTO DA ALA DOS COMPOSITORES

ART 1 – O G.R.E.S. Alegria do Vilar vem a instituir Marco Antônio Rocha do Amaral, como Presidente da Ala dos Compositores da escola citada.

ART 2 – Poderá se inscrever no concurso qualquer compositor, ainda que seja a primeira vez.

ART 2.1 – O processo de tira-dúvidas, serão divulgados com 5 dias de antecedência., pedidos fora do dia estipulado, não será aceito em hipótese alguma.

ART 3 – A taxa de inscrição será no valor de R$ 300,00 por parceria independentemente do número de compositores. O valor arrecadado será revestido para realização da disputa de maneira geral e nada tem haver com pagamento posteriores ao desfile.

ART 4 – Cada obra deverá conter 9 compositores, e não será permitida participação especial.

ART 5 – O samba deverá ser inédito e se houver indício de plágio, o samba será eliminado.

ART 6 – O samba deverá ser inscrito no local e hora que for divulgado. Após esse horário, não será aceito a inscrição de nenhuma obra.

ART 7 – Cada parceria deverá escolher o número da sua obra, de acordo com a sua conveniência, devendo respeitar os números já escolhidos.

ART 8 – No ato da inscrição, cada parceria deverá fornecer 30 cópias de letras do samba redigidas no computador, no formato A4 não sendo aceito rasuras na letra do samba e o mesmo deverá vim acompanhado de um pen drive. Obs: letra legível.

ART 8.1 – A gravação deverá ser da melhor qualidade possível, sendo a produção e direção, de responsabilidade de cada parceria.

ART 9 – Após a entrega dos sambas, as parcerias estão autorizadas à divulga-las em suas redes sociais. Caso aja um divulgação antecipada, a obra não será aceita, implicando na participação ao concurso.

ART 10 – Fica reservado à direção da escola estabelecer normas e critérios complementares a este regulamento.

ART 11 – A ordem de apresentação dos sambas será definido por sorteio a ser realizado pela direção em conjunto aos compositores, e será divulgado nas redes sociais da escola.

ART 12 – Nas apresentações cada parceria terá disponível: 4 microfones, 4 cordas e não será permitido pessoas com bermudas e camisetas, e em hipótese alguma, pessoas alcoolizadas.

ART 13 – As apresentações de palco dos sambas, serão de responsabilidade de cada parceria, competindo as mesmas, a disponibilização de cantores e harmonias de corda. O pedal, será de responsabilidade da agremiação.

ART 14 – Não será permitido fogos dentro da quadra. Apenas ao lado de fora. E deverá ser previamente, comunicado à direção geral de Harmonia.

ART 15 – Cada parceria é responsável pelos atos praticados pelos seus membros e torcida, ainda que, em ambiente físico ou virtual. Atos impróprio, ofensivos ou desrespeitosos, será passivo de punição imposta pela direção.

ART 16 – Todo segmento da escola, tem o direito de participar do concurso de samba-enredo, desde que, se licencie formalmente da diretoria executiva e/ou de Carnaval no percurso do concurso.

ART 17 – O não comparecimento na reunião do sorteio de apresentação dos sambas, de pelo menos 1 (um) representante, a obra fica penalizada a ser a primeira a se apresentar indiscutivelmente.

Presidente: Marquinhos Rosali

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