CARNAVAL 2020
FBCERJ / GRUPO A
GRÊMIO RECREATIVO BLOCO CARNAVALESCO DO BARRIGA
Presidente – Fernando Florenço
Ordem no Desfile – 2º Bloco de Enredo a desfilar
Enredo: O JEITO É VER A BANDA PASSAR
Carnavalesco – Raphael Ladeira
“Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor…”
Inspirado na canção A BANDA, do compositor brasileiro, Chico Buarque de Holanda, vencedora do II Festival de Música Popular Brasileira no ano de seu lançamento, em 1966. Propomos através da visão livre e carnavalesca uma releitura dos versos da música, que fala sobre o impacto que arte exerce sobre nós, amenizando nossas dores, embalando nossos amores, nossos anseios, em uma alegoria na qual a banda é o arquétipo da arte.
O enredo é uma metáfora onde “A Banda” é, na verdade, o próprio bloco a desfilar, onde cantaremos de forma lúdica, o “amor”, como vacina “contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo” que os brasileiros estão vivendo ou presenciando.
Como disse Carlos Drummond de Andrade, em nota ao jornal Correio da Manhã, ao descrever a recepção do público a canção de Chico.
“Amor, que precisamos, em tal dose, que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente.”
Tudo estava em seu lugar, com os ricos sendo ricos e os pobres sendo pobres, aí chegou o carnaval, e o meu coração que era triste, alegre logo ficou, ao ver a banda passar.
Sua marcha alegre, ganha a avenida, tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição, entusiasmando novos e velhos.
A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é vê-la e ouvi-la passar, pois, esta banda não vem entoando marchas militares, dobrados de guerra, não convida a matar o inimigo em discursos de violência.
Ela é de amor, e como o Cupido, prefere rasgar corações, ser o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.
Sozinha faz a cidade toda se enfeitar, florescer como um jardim repleto de flores e borboletas a voar.
Faz a felicidade brotar em cada folião. Semeia a transformação, faz a minha gente sofrida despedir-se da dor, se despir da tristeza, afastar a miséria, esquecer o desemprego, o baixo salário, libertar-se das neuroses provocadas pelas tensões e lutas da vida. E louco de felicidade, varrer as dores do dia a dia, para vê-la passar.
Confetes coloridos caem do céu, as serpentinas, se enroscam em nós, unindo nossos corpos. E dessa forma, “O homem sério que contava dinheiro…” esquece o sobe e desce da bolsa, e se junta aos que não têm dinheiro para contar e muito menos para gastar.
Eu sou o seu pierrô e você a minha colombina, cantava ele à “namorada que contava as estrelas…”, que a ele fazia juras de amor, mas que, na verdade, era uma dama da noite e amava “o faroleiro que contava vantagem”, um pobre 1 7 1 contador de história.
Todos vão ficando cada vez mais próximos…
“A moça triste que vivia calada”, pois, carregava um mundo de preocupações, sorri, descendo o morro tal como nossa maria lata d’água, sem se importar com o peso que carregava.
“A rosa triste que vivia, fechada”, finalmente ao jardineiro se abriu, e seu perfume por todos os cantos exalou, pois, coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, começando por aqueles que querem que elas floresçam.
Feliz da vida, “A marcha alegre se espalha na avenida” …., e lá vai a banda fazendo a sua mutação, marchando em direção, a praça, a apoteose.
É uma catarse, uma overdose de alegria, é a mulata cabrocha na ginga da bossa do malandro, é a meninada toda assanhada, junto ao velho fraco que se esqueceu do cansaço, e do desconforto da idade. É o novo, o velho, o moderno é o tradicional de mãos dadas, no alvoroço da banda a brincar e o esqueleto a balançar.
Atrás do vidro da TV a bruxa feia, fuxiqueira, que não perdia uma fofoca, e passava o ano dando nota de desgraça, se aproveita do sucesso da banda, e debruçada na janela, pensando que a banda tocava para ela, queria os aplausos que a ela não pertencia.
E lá no céu as estrelas vem acompanhadas da saudosa “lua cheia que vivia escondida”, no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, iluminando a alegre multidão que, feliz segue a banda cantando coisas de amor.
“Mas para meu desencanto, o que era doce acabou”, tudo voltou ao seu lugar, depois que a banda passou, a magia se acabou, a esperança se foi, a moça voltou a ser triste, a rosa novamente se fechou, e o pranto da saudade foi o que restou, e o povo novamente em farrapos ficou.
Então, que venham outras bandas, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente.