Recordando Carnavais… Uma deliciosa viagem gastronômica pelo Brasil! Buon Mangiare!

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“Nós fizemos a feira, agora servimos o cardápio”

Recordando Carnavais…

A Caprichosos de Pilares viajou pelos quatro cantos do país mostrando as delícias da culinária brasileira no carnaval de 1983. No seu segundo carnaval na agremiação, estreou sendo campeão em 1982 no grupo 1B com o enredo Moça Bonita Não Paga, o professor Luiz Fernando Reis estreava no Grupo Especial trazendo novamente a cabrocha Lili que após ter feito a feira no ano passado, agora ela é a mestre-cuca da azul e branca.

A agremiação não deixou de lado sua veia crítica e bem-humorada no desenvolvimento do enredo, lembrando que a fome era um problema sério do país, assim como a inflação.

A escola desfilou no escuro, na penumbra, por cerca de meia hora, devido à explosão de um cabo trifásico subterrâneo da Estação Frei Caneca, da Light, responsável pela alimentação de cinco dos oito transformadores de 300 KVA cada utilizados para a iluminação da passarela. Mas a falta de luz não desanimou a escola, dando mais garra ainda a seus componentes que terminou seu desfile sendo aplaudida pelo público. A Caprichosos por este motivo não foi julgada, porém festejou o reconhecimento do seu bom desfile com o Prêmio Estandarte de Ouro de Revelação.

A Caprichosos voltava ao Grupo Especial após 21 anos e voltava com fome de ficar entre as grandes e fazer belos carnavais! Conseguiu por longos anos…

Lili nos serviu um delicioso desfile das delícias da culinária nacional!

Buon Mangiare! Bom apetite!

Por Marcos Couto

Grêmio Recreativo Escola de Samba Caprichosos de Pilares

Carnaval de 1983

Enredo: UM CARDÁPIO À BRASILEIRA

Resultado: Hours-concurs (AESCRJ) – A escola não foi julgada

Data e Local e Ordem do Desfile: 2ª Escola de Samba a desfilar no Grupo Especial em 13/02/1983, Domingo, na Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro, RJ

Sede/Quadra: Rua Faleiro, 1, Pilares, Rio de Janeiro, RJ

Autor do Enredo: Luiz Fernando Reis

Carnavalesco: Luiz Fernando Reis

Presidente Administrativo: Antônio Mair Villa-Forte

Diretor de Carnaval: N/C

Diretores de Harmonia: Luís Lampião, Jorge Sincão, Jorginho Harmonia “Niltinho” e Dino

1º Casal de Mestra-Sala e Porta-Bandeira: Lilico e Elisabeth Nunes “Beth”

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Jorge e Marly

Bateria: 270 Ritmistas sob o comando do Mestre Ricardo – Fantasia: Cozinheiro

Mestre de Bateria: Ricardo

Diretor de Bateria: Chinoca

Contingente: 2.500 Componentes, 31 Alas, 150 Baianas, 150 Crianças

Prêmio Estandarte de Ouro de 1983 Revelação

Vamos passear pelo Brasil  e decantar a culinária desta terra tão sutil

Samba-Enredo:

Autores do Samba-Enredo: Alcino Corrêa Ferreira “Ratinho” e Jorge Barbudo

Intérprete: Carlos Miguel Marques “Carlinhos de Pilares”

Vamos passear pelo Brasil / E decantar / A culinária desta terra tão sutil

A começar pelo Pará / Tem pato no tucupi e tacacá

Mas jabá e farinha / No Nordeste não pode faltar

E aquela cachacinha / Que nos é peculiar

Arrepia, arrepia / Vatapá com pimenta na Bahia

(Minas Gerais) Minas Gerais, oi / Feijão tropeiro é uma parada

Meu Rio tem feijoada / Angu à baiana e cerveja gelada

São Paulo / Tem viradinho no tempero / E para o povo brasileiro / O cafezinho é natural

Que maravilha comer / Peixe assado no Planalto Central

Chegamos ao Sul / O vaqueiro diz agora

Meu amor não vá embora / Come barreado

Que o churrasco não demora / A Lili a cozinheira / Maldizendo a inflação

Entoou de brincadeira / Na cozinha este refrão:

Ai meu Deus / Ai meu Deus / Matei a fome lá na feira / Só de ver

Sinopse:

“UM CARDÁPIO À BRASILEIRA”

1ª PARTE: INTRODUÇÃO

Um cardápio à brasileira é uma saborosa viagem pelo Brasil afora. É homenagem a esse gente que condimenta temperos, que toma da lenha e faz o fogo, cozinhando em panelas de barro, barro do nosso chão, as delícias de nossos pratos, pesados talvez, mas de paladar saborosíssimos, exóticos alguns, mas CAPRICHOSAMENTE burilados por mãos calejadas de trabalho e queimadas de fogo mas que se tornam carinhosamente delicadas no trato da nossa culinária.

É a essa gente, que nos conquista pelo paladar, que humildemente dedicamos

UM CARDÁPIO À BRASILEIRA

Luiz Fernando Reis

 

2ª PARTE: HISTÓRICO

Para melhor compreensão do enredo o dividimos em 4 quadros, a saber: 1º QUADRO: AS ORIGENS; 2º QUADRO: OS TEMPEROS; 3º QUADRO: AS COMIDAS; 4º QUADRO: OS COMPLEMENTOS

2.1 – 1º QUADRO: AS ORIGENS

Em toda manifestação cultural brasileira está evidenciada a presença das raças índia, branca e negra, seja as artes, dança, música, artesanato e até mesmo na religião.

Nossa culinária, cultura tipicamente popular, também é fruto dessa miscigenação. Enquanto misturavam-se raças, misturavam-se paladares, combinavam-se temperos e gostos, ervas e condimentos.

O índio deu a terra, ervas e farinha; o branco trouxe a gula, carnes e batatas; o negro, a mística arte de temperar.

E dessa agradável miscigenação surgiu uma típica e original culinária – A cozinha brasileira.

 

2.2 – 2º QUADRO: OS TEMPEROS

Sabe-se pelo mundo afora que o segredo de um bom prato está no tempero, mas nos parece que na cozinha brasileira esse argumento é ainda mais evidenciado, pois, além de utilizarmos os temperos tradicionais – sal, cebola, tomate etc – ainda lançamos mão de outros bem mais exóticos – a pimenta-do-reino, a pimenta malagueta, o azeite-de-dendê, o amendoim, o leite-de-coco e por aí afora; temperos que, à primeira vista, espantam os leigos mas que a nós, brasileiros, agradam bastante pelo sabor característico e inconfundível que dão a nossos pratos.

 

2.3 – 3º QUADRO: AS COMIDAS

Como afirmamos na introdução de nosso enredo, “UM CARDÁPIO À BRASILEIRA” é uma saborosa viagem pelo Brasil afora e, como famintos turistas, organizamos um plano de viagem que passamos a relatar:

Começamos pela região Norte passando pelo Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e terminamos na Região Sul. Em cada região permanecemos tempo bastante para provarmos e nos deliciarmos dos seus pratos típicos.

No NORTE, de grande influência indígena, saboreamos o PATO NO TUCUPI, o PIRARUCU e o TACACÁ.

No NORDESTE onde ainda se nota a influência indígena (mas já aí bastante miscigenada pelo branco e o negro), provamos o BAIÃO DE DOIS, o SARAPATEL, a PANELADA, a GALINHA DE CABIDELA, o JABÁ COM GIRIMUN e a BUCHADA, mas foi no Estado da Bahia que mais nos deliciamos. A forte influência negra nos fez provar pratos de tempero forte e apurado, saborosíssimos: VATAPÁ, BOBÓ DE CAMARÃO, XINXIN DE GALINHA, MOQUECA DE PEIXE, CARURU, ACARAJÉ e tantos e tantos mais…

Ainda com água na boca deixamos esse paraíso alimentar com destino ao SUDESTE. Em Minas o FEIJÃO TROPEIRO, o TUTU À MINEIRA e o LEITÃO À PURURUCA quase nos fazem esquecer as iguarias baianas. Ainda saboreando uns TORRESMINHOS chegamos ao Rio de Janeiro, onde nos foi servida uma FEIJOADA COMPLETA com tudo o que ela tem direito: feijão preto, carnes salgadas, linguiça, paio, couve à mineira, arroz, farinha torrada, laranja e uma cachacinha límpida e deliciosa onde, inclusive nos foi contado que a feijoada é originária dos negros africanos quem tomando das carnes menos nobres dos leitões dos senhores, as misturavam ao feijão preto e deliciavam-se.

Ainda no Rio de Janeiro nos deliciamos com um ANGU À BAIANA que, apesar do nome, é prato tipicamente carioca e, por que não? também uma minuta presente em todos os restaurantes brasileiros – o BIFE COM FRITAS.

Caminhando um pouco mais chegamos à São Paulo e provamos um CUZCUZ PAULISTA, saboroso prato salgado à base de fubá. Provamos também um VIRADINHO que é uma agradável combinação de feijão mulatinho, torresmo e farinha de milho. Mas tanto fez o imigrante italiano que conseguiu introduzir em nossa culinária a PIZZA, que também beliscamos.

Partindo para OESTE voltamos a encontrar a influência indígena. No Mato Grosso nos foi oferecido um JACU ASSADO, apetitoso peixe de água doce. Em Goiás nos foi servida uma sopa de milho – o BURÉ – e também o ARROZ COM SUÃ.

Com destino ao SUL tivemos a oportunidade de provar, no Paraná, dois partos à base de carne de vaca: o PUCHERO e o BARREADO. Em Santa Catarina saboreamos o LOMBO À CATARINENSE.

Já entristecidos com o término próximo de nossa viagem adentramos nos pampas, terra de bom gado e bom pasto; por lá nos ofereceram um CHURRASCO à gaúcha com “aquela” carne fresca assada na brasa de lenha acompanhada de salada verde e, com se não bastasse, ainda comemos um ARROZ DE CARRETEIRO e o italiano de origem mas gaúcho por gosto – GALETO COM POLENTA.

E assim viajamos de Norte a Sul provando esses maravilhosos partos elaborados e saboreados por essa gente simples e humilde – a gente brasileira, que criou e difundiu

UM CARDÁPIO À BRASILEIRA

 

2.4 – 4º QUADRO: OS COMPLEMENTOS

Um bom prato salgado pede um bom complemento. Como entrada, abrindo o apetite, uma cachacinha pura ou misturada com gelo, açúcar e limão, formando a nossa caipirinha, ou ainda aromatizada com sucos de frutas criando-se as típicas batidas brasileiras.

Acompanhando nossos pratos, uma “loura suadinha” – a cerveja nossa de cada dia.

Terminando o sal vem o doce (e que doces!). Sobremesas prá “gringo” nenhum botar defeito: BABA DE MOÇA, DOCE DE LEITE, GOIABADA COM QUEIJO MINAIS, PAMONHA, DOCE DE ABÓBORA COM COCO, CURAU DE MILHO, MARIA-MOLE, PÉ-DE-MOLEQUE, COCADA, BOLO DE FUBÁ, SORVETES e FRUTAS TROPICAIS entre outras delícias das doceiras brasileiras.

Até agora tudo foram opções à escolha e ao gosto de cada um mas do CAFEZINHO, quase um ritual brasileiro, – ninguém escapa. Seja do Norte ou do Sul, fresco ou requentado, no frio ou no calor, nunca um cafezinho é rejeitado e, prá fim-de-papo, ainda, nos serviram um caseiro LICOR DE JENIPAPO.

 

3ª PARTE: CARACTERÍSTICAS GERAIS

Apesar do caráter nacional que damos à nossa culinária ela é, na realidade, bastante regionalista. É difícil, por exemplo, saborearmos no Rio de Janeiro um pato no tucupi, uma buchada, como também é difícil saborearmos no Pará ou na Paraíba um angu à baiana, um viradinho à paulista e quando essa proeza é conseguida paga-se muito caro por ela; em suma, pratos populares que as camadas mais populares não têm acesso quando fora de suas regiões originárias, talvez, por isso, o FEIJÃO, ARROZ E FARINHA seja tipicamente o prato nacional, aceito por ricos e pobres; aos primeiros por modismo ou mesmo paladar acrescido evidentemente de uma carne mais nobre, aos demais certamente por necessidade dado ao relativo baixo custo do prato.

Outra característica notável é o fato de a maioria de nossos pratos serem altamente trabalhosos, seja no apuro dos temperos, ou mesmo no tempo de preparo, provavelmente por isso, não sejam pratos do dia-a-dia, sendo preferidos em ocasiões especiais onde ele é servido para um número grande de pessoa, característica popular e socializante de nossa culinária.

Outro fato marcante são os “bóias-frias”, trabalhadores de baixa renda mensal, que trazem em marmitas seu almoço ou outros mais privilegiados que se alimentam, em bares e pensões de “pratos feitos” ou “pratos-do-dia”.

 

4ª PARTE: OBSERVAÇÕES FINAIS

1 – Apesar de descritivo, nosso enredo será também bastante crítico, com alusões à fome, salário-mínimo, baixa renda do povo, inflação etc.

2 – Foi nossa intenção darmos continuidade à feira. Fizemos A Feira e agora a serviremos num cardápio à brasileira sendo, portanto, bem recebidas lembranças do enredo anterior.

3 – A cabrocha Lili continuará presente, desta vez como cozinheira. Lili fez a feira e agora a cozinhará.

4 – São importantíssimos os pratos nordestinos, cariocas (feijoadas e angu), churrasco, os bares, os “bóias-frias”, a cerveja, a cachaça e o cafezinho.

5 – Evite citar um número muito grande de pratos e sobremesas. Nó os faremos em estandartes.

6 – Será bem aceita a palavra CAPRICHOSAMENTE, na letra do samba.

7 – Procure limitar entre 20 e 25 versos a letra do samba.

8 – É expressamente proibida qualquer lembrança à nossa presença no 1º Grupo A.

9 – Sem mais, desejamos boa inspiração aos poetas caprichosos.

Atenciosamente

Luiz Fernando Reis

Canal do YouTube Daniel Marques – Caprichosos de Pilares 1983 (TV Bandeirantes)

Fontes:

Samba na Intendente

Galeria do Samba

Academia do Samba

Sambario

https://www.pedromigao.com.br/ourodetolo

Jornal O Globo de 30 de Dezembro de 1982, Matutina, Cultura, página 28

Jornal O Globo de 18 de Janeiro de 1983, Matutina, Cultura, página 27

Jornal O Globo de 25 de Janeiro de 1983, Matutina, Cultura, página 28

Jornal O Globo de 03 de Fevereiro de 1983, Matutina, Rio, página 15

Jornal O Globo de 05 de Fevereiro de 1983, Matutina, Rio, página 13

Jornal O Globo de 13 de Fevereiro de 1983, Matutina, Rio, página 3

Jornal O Globo de 16 de Fevereiro de 1983, Matutina, Rio, página 3

Jornal O Globo de 16 de Fevereiro de 1983, Matutina, Rio, página 7

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