GRES Império da Resistência
Carnaval 2024
Comissão de Carnaval
Enredo: Dê licença, somos Resistência, ou, “Pedrinhas miudinhas de Luanda aê”!
“Pedrinha Miudinha de Luanda aê!
Lajedo tão grande… Tão grande de Luanda Aê
Pedrinha de um lado, pedrinha do outro.
Pedrinha de Luanda aê!
Quem sabe mais é Deus do céu, Jesus, Maria, Jose (…)
Três pedras, três pedras lá na minha aldeia,
Uma é maior, outra é menor…
A miudinha é que me alumeia!”
São três pedrinhas miudinhas nesse lajedo tão grande que é o nosso universo, lugar que concentra nosso encantamento.
A pedrinha maior é mundo. Ayê é seus caminhos. É grande e todo ele pode ser o meu lugar. É no mundo que a vida encanta. E encantados, estamos vivos. Não há mal que nos afaste do rito, das construções da vida que acontecem na soma dos pequenos momentos dia após dia.
Quando fomos afastados da Grande Mãe África, mesmo obrigados às Sete Voltas do Esquecimento, resistimos.
Quando empurrados pelos morros, ou pelas linhas do trem, mesmo com as tentativas de clarearem nossa pele, pelas frestas resistimos.
Entre a vida que nos forçavam e a vida que insistíamos em viver, criamos o samba, festejamos, saudamos nossos ancestrais com outras folhas, de outras maneiras.
Por onde nos levaram, fincamos nossa bandeira.
Porque também somos grandes.
Porque também somos mundo.
A segunda pedrinha é o terreiro.
É no terreiro que eu aprendo, é na rua que eu aconteço.
Dos fazeres e saberes trocados entre mais velhos e mais novos, cada terreiro se tornou escola de vida. Em cada gira, cada toque do tambor, cada folha consagrada, cada ajeum compartilhado, nos mostrou como somos fortes quando estamos unidos.
Daí, levantamos a cabeça para celebrar vida nas rodas de jongo, nos jogos da capoeira, na cachaça derramada do copo na porta do bar, no sambar miudinho na avenida, que mostramos quem somos e ao que viemos.
Cada um com seu malandro, cada um com sua crença – naqueles que não dormem!
Dançamos juntos, comemos juntos, sofremos juntos. E é pela dificuldade que, também, comemoramos juntos porque precisamos sentir a alegria de existir. Mas nos revoltamos quando é preciso, porque assim também resistimos.
E para rua, com três porções de água, refrescamos o caminho e levamos nossa identidade.
Porque não estamos sozinhos, porque somos muitos. E juntos somos tudo, somos ubuntu.
A terceira pedrinha, como disse o velho caboclo, “é você que escuta o ponto”.
E aí? O que é que você vai fazer para resistir?
Observe ao seu redor, guarde o canto dos griôs, espere a fresta, atravesse…
Como dizia vovó na reza, “sempre bata na porta, mas nunca deixe de entrar”.
Cada caboclo, cada preto-velho, cada abolicionista, cada indigenista, cada funkeiro, cada habitante dessa terra construiu e constrói nossa História com a seu presente.
Cante, dance, aconteça! Seja negro, branco, índio, gay, trans, cristão, do axé, tímido ou louco… Apenas seja, porque toda vida é ação, é você!
Escreva sua parte nessa resistência.
Nós estamos aqui.
E você?
Resistir é se encantar. “Desencanto é morte!”
“Muriquinho pequenino, parente de kissamba na cacumba”
Gratidão a Seu Zé Tupinambá, a Luís Antonio Simas e a Ganga Zumba, Zumbi, Tia Ciata, Carolina de Jesus, Clementina de Jesus, Luís Gama, Djamila Ribeiro, Lena Martins, João Cândido, Elza Soares, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, Milton Santos, Sueli Carneiro, Silvio Almeida, Emicida, Mano Brown e tantos outros…