Sinopse do Cometas do Bispo

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Confira a sinopse do enredo do Bloco Cometas do Bispo:

Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Cometas do Bispo

Carnaval de 2024

Enredo: “Tons de Liberdade”

Nenhum pássaro quer viver na gaiola, não existe peixe que seja feliz dentro de um aquário, se existe pessoa que não sonha em se livrar de suas prisões, eu desconheço. A liberdade é uma busca diária, uma batalha travada tanto com elementos externos quanto internos, nas expectativas, na autocrítica e no pré-julgamento.

Durante o ano inteiro, acabamos nos moldando e se enquadrando em padrões para que a “máquina” gire, trancafiados em regras e burocracias. Então chega o carnaval para nos despirmos de tudo o que nos aprisiona, tirar o peso das costas, extravasar e se libertar.

Não é atoa que o carnaval está diretamente ligado à liberdade. Pode-se fazer de tudo nos dias que antecedem a quaresma. Muito além do contexto religioso, o carnaval é representado pela expressão física, musical, artística, coreográfica, que reflete o anseio de um povo em viver cada tom de liberdade.

Há pouco tempo, ainda havia pessoas que viviam acorrentadas, escravizadas sob o cativeiro. Período sombrio que durou 400 anos e que ainda paira nos dias de hoje, devido ao abandono, traumas e preconceitos exercidos por um poder opressor. O direito de ir e vir é negado quando a violência te obriga a se trancafiar em casa para se proteger, dentro de lojas e supermercados, há escolta por te acharem suspeito. Sem contar o elevador de serviço. Nada é pior que crianças perderem aula em dias de operação. Poder ir e vir é um cadeirante conseguir subir uma escadaria ou um idoso encarar uma ladeira íngreme, vencer as dificuldades de acesso e locomoção. Liberdade é ser feliz e andar tranquilamente na favela onde eu nasci.

Haja fé! Pra encarar os leões do dia a dia! Todo mundo se apega a uma proteção, uma religião, às vezes várias ao mesmo tempo. A livre manifestação dessa fé se revela nas religiosidades das missas católicas, nas procissões, nas feijoadas de São Jorge e oferendas a Iemanjá. Onde um grito de pregação e louvores fervorosos se misturam com o som das giras e ritmo dos atabaques. O preceito é o contrário de imposição, é liberdade de escolha guiada pela fé, mas muitas vezes esse chamado ou simplesmente escolha, não é respeitada. O resultado é a demonização de religiões de matriz africana que sofrem ataques e vandalismo. A intolerância religiosa é um retrato do racismo cultural presente desde o tempo da colonização onde o sistema escravista tentou apagar toda memória e cultura africana. Todo um povo resiste e busca a liberdade de cultuar a religião de seus ancestrais.

Cada ser é um universo que se manifesta a partir de sua natureza. Isso reflete nas nossas ações e na forma em que nos comunicamos. Essa comunicação pode ser verbal mas a beleza está nas entrelinhas da comunicação não verbal. Quanta mensagem existe numa palhaçada, na batida de um samba, nos passinhos de funk, na parede de um grafiteiro?

Expressar livremente suas opiniões é garantir seus direitos, exigir por justiça, é agradecer as vitórias. Qual fantasia você vai usar esse ano? Que mensagem ela quer passar? Aproveite e escolha bem. O carnaval é a melhor época para desfrutar da liberdade de expressão.

Deus nos deu o livre arbítrio, a liberdade de escolha, qual caminho trilhar que tipo de vida viver. Cada vez mais as pessoas estão dando atenção à saúde, preocupadas com a aparência e para isso alguns se submetem a procedimentos estéticos. Plásticas, implantes, tatuagens, “meu corpo minhas regras”. Se transformar, definir sua identidade de gênero, expor sua sexualidade é ter poder sobre o próprio corpo. Liberdade é aceitar sua natureza, gordo, magro ou com deficiência, se amar é fundamental. O amor é a maior arma contra o preconceito.

Um povo que não conhece sua história está fadado a repeti-la e o passado está recheado de trevas e falta de conhecimento. A palavra aluno significa aquele que não tem luz, ou seja, quem não tem o conhecimento e conhecimento é liberdade. Uma exaltação ao professor, que ilumina e pavimenta o caminho que escolhemos seguir. O mestre que lapida o aprendiz para que tenha uma vida livre, exista com dignidade, possa atender suas demandas, tenha uma moradia, possa levar comida para casa e proporcionar um futuro a quem se ama. Trabalhar e prover, poder comprar quando se precisa, usar do conhecimento como meio de vencer.

Todo território onde hoje é o morro do Turano, Tijuca e Rio Comprido, era plantação de café sustentada por pessoas escravizadas. Desde essa época, esta terra clama por Liberdade. No início do século XX, seus moradores: imigrantes do interior, minas e nordeste, pessoas que buscavam uma condição de vida melhor, lutaram para ter o direito de ter um lar. Há duas gerações sofreram violência, ameaças e muitas vezes tiveram suas casas demolidas por não pagarem ao tirano “dono das terras”. A união e senso de comunidade dos antigos chamou a atenção da imprensa que noticiou essa batalha na época. Com o tempo, provaram que as terras não tinham dono, assim, passaram a chamar o morro de Morro da Liberdade.

A história do Cometas do Bispo está intimamente ligado a palavra Liberdade não só pelo nome da comunidade, Morro da Liberdade, mas pela talentosa gente que dia a dia exerce o direito de ir e vir, cultua livremente sua religião, se expressa como bem entende, tem poder sobre o próprio corpo e desce o morro para desfilar com seus Tons de Liberdade!

Texto e desenvolvimento de enredo:

Thiago Soares (Diretor Social e Cultural)

Paulo Baron (Carnavalesco)

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